Retirado do site:
http://www.dakar.iol.pt/noticia.php?id=899289
«Antigamente os pilotos sobreviviam e hoje em dia não sobrevivem?»
[ 2008/01/04 | 15:30 ] Luis Neves
Elisabete Jacinto considerou hoje que a decisão de anular o Lisboa-Dacar 2008 é "estranha" e pode comprometer o futuro da prova, ideia que também é partilhada por Bernardo Vilar.
Quando confrontada com a decisão, que causou surpresa no seio dos pilotos, Elisabete considera que "parece estranho. Eu não tenho informações suficientes para dizer seja o que for. Sei que até agora a organização disse sempre que tinha garantido a segurança e que trabalhou junto do governo da Mauritânia para garantir a segurança de toda a comitiva. Agora é estranho que, à última da hora, mesmo na véspera da partida, se venha a tomar uma decisão destas", lamentou a piloto portuguesa, que ia fazer a prova em camiões.
Elisabete Jacinto disse que o sentimento que a domina "é a frustração" e quer "acreditar que houve razões válidas para a organização tomar esta opção", apesar de sublinhar que não tem as informações todas para saber se a decisão foi a acertada.
"Estamos numa época dos meios de comunicação, em que um microfone e uma câmara fazem milagres. O Dakar, no figurino que conhecemos, até pode terminar aqui e começar outra prova, não se chamando Dakar, mas outra coisa qualquer, com o mesmo espírito, com linhas muito idênticas e com a mesma força ou ainda maior", disse.
Jacinto disse que "o Dakar sobreviveu 30 anos", apesar de ter passado por "épocas e situações muito mais difíceis, em que não havia tecnologia, a segurança era mínima, as pessoas se perdiam no deserto e corriam realmente risco de vida".
"Chegámos a uma época em que temos tudo para nos salvaguardar, os meios de segurança são enormes, já ninguém se perde, a organização sabe sempre onde nós estamos, em caso de acidente o socorro vem relativamente rápido, se pensarmos que estamos no meio do deserto, e anula-se um rali inteiro por motivos de segurança. Dá que pensar...", reiterou.
Elisabete Jacinto, que iria conduzir um camião MAN na prova que deveria realizar-se entre sábado e 20 de Janeiro, questionou ainda por que "antigamente os pilotos sobreviviam e hoje em dia não sobrevivem?".
"Dá que pensar se somos cada vez menos capazes, menos aptos de nos valermos a nós próprios. Este é o meu sentimento de frustração a falar", afirmou.
A piloto portuguesa terminou dizendo que quer "acreditar que, para se anular o rali inteiro, o risco fosse de facto grande".
Em declarações à Agência Lusa, Bernardo Vilar também pensa que a decisão hoje tomada pela organização "é uma desgraça para o desporto automóvel e para a prova" e a anulação pode acabar com a prova no formato que se conhece.
"Acho que ele (Dakar) vai ficar por aqui... vai ser complicado depois convencer toda a gente a meter-se num novo Dakar com hipótese de não ter sucesso novamente. Tudo o que estava envolvido, desde patrocínios, a equipas, vão deixar de dar crédito a esta prova. É muito chato para toda a gente que está inscrita e envolvida na prova", considerou.
Para o piloto, um dos mais experientes no Dakar, com 13 participações, o rali passará então "a chamar-se outra coisa". "Tem que se inventar outro nome, porque o Dakar realmente é ali, é no coração do Sahara. Se não se for para lá tem que se inventar outra prova. Mas esta, com este cariz, com o encanto deste recanto africano, é ali", afirmou.
O piloto recordou, no entanto, que "as relações com a Mauritânia também nunca foram sempre boas e o país nunca foi 100 por cento seguro".
"Sempre houve complicações. Desta vez, se calhar, a coisa é mais grave. Mas do ponto de vista desportivo é uma facada terrível em patrocinadores, pilotos, equipas. Toda essa gente toda vai ficar aqui com um trauma gigante com este acontecimento", reiterou.
Adélio Machado da equipa Padock Competições, uma das maiores estruturas nacionais no Dakar, com nada mais que seis carros, ficou extretamente triste com a decisão. "Tudo estava pronto e preparador para a prova e agora foi cancelado, deixando-nos bastante tristes".